17 de jul. de 2012

Distribuição da Brioflora em diferentes fisionomias; Ipu rico em Biodiversidade


RESUMO

(Antóceros (Anthocerotophyta), hepáticas talosas (Marchantiophyta), briófitas (Bryophyta)) da Bica do Ipu, Ceará, Brasil). A APA da Bica, unidade de conservação de uso sustentável, criada por meio do DECRETO Nº 25.354, de 26 de janeiro de 1999, abrange uma área de 3.484,66 hectares e localiza-se no Município de Ipu, a 391 Km de Fortaleza. O acesso a esta unidade de conservação se dá, partindo de Fortaleza, pela BR 222 e a seguir pela Rodovia CE 187 ao norte do estado do Ceará. No inventário florístico de briófitas realizado na área, foram encontradas as seguintes espécies, Aneura pinguis (L.) Dumort; Fissidens anguste-limbatus Mitt., J. Linn; Fissidens angustifolius Sull; Fissidens crispus Mont., Ann. Sci. Nat; Fissidens lindbergii Mitt., Journ. Linn; Riccia fruchartii Steph. e Riccia stenophylla Spruce, Bull. São fornecidas chaves de identificação para as espécies, distribuição geográfica, comentários referentes à ambiente, substratos e caracteres taxonômicos pertinentes.

Palavras-chave: Briófitas, florística, Nordeste do Brasil, taxonomia.

ABSTRACT

(Hornworts (Hornwort), liver talosas (Marchantiophyta), bryophytes (Bryophyta)) of Bica do Ipu, Ceara, Brazil). The APA Bica, protected area for sustainable use, created by the Decree No. 25354 of January 26, 1999, covers an area of ​​3484.66 hectares and is located in the city of Ipu, 391 km from Fortaleza. Access to this protected area is given, from Fortaleza, BR 222 and follow Highway 187 north of the EC state of Ceara. In the floristic inventory of bryophytes to the area, the following species were found, Aneura pinguis (L.) Dumort; Fissidens limbatus anguste-Mitt., J. Linn; Fissidens angustifolius Sull; Fissidens crispus Mont., Ann. Sci Nat, Fissidens lindbergii Mitt., Journ. Linn; Riccia fruchartii Steph. and Riccia stenophylla Spruce, Bull. Keys are provided to species, geographical distribution, comments relating to the environment, substrate and relevant taxonomic characters.

Keywords: Bryophyta, floristic, northeastern Brazil, taxonomy.

INTRODUÇÃO
As briófitas correspondem a um grupo de plantas avasculares que ocorrem principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. A maioria se desenvolve em locais consideravelmente úmidos, formando tapetes sobre o solo, pedras, rochas, madeiras em decomposição ou sobre a casca de árvores vivas. As briófitas estão representadas por três filos: Anthocerotophyta, Marchantiophyta e Bryophyta representados
mundialmente por ca. 18.000 espécies.
A região da Chapada da Ibiapaba possui condições ambientais que favorecem o desenvolvimento da flora briofítica. Segundo Souza (1989), a região é um dos mais importantes compartimentos geomorfológicos do território cearense. Sua porção norte consta de condições geoclimáticas que propiciam formação de brejos de cimeira e de encosta, caracterizados pela mata úmida (Fernandes 1990). Exatamente nesses ambientes, verifica-se a maior representatividade das briófitas, o que torna o grupo de importância relevante para a biodiversidade.
Existem também trabalhos que citam espécies ocorrentes no Estado do Ceará, mas nenhum apresenta um levantamento específico e sistemático das briófitas do Estado.
Este trabalho teve como principal objetivo contribuir para o estudo e a elaboração de uma listagem das espécies de briófitas ocorrentes nesta Serra, obtendo assim informações com vista a conservação das espécies e de seus ecossistemas naturais existentes na área, além do conhecimento da diversidade das famílias encontradas, para enriquecer os dados referentes à brioflora do Estado do Ceará e do Brasil.
MATERAL E MÉTODOS
A APA (Área de Proteção Ambiental) da Bica abrange uma área de 3.484,66 hectares e localiza-se no Município de Ipu, a 391 Km de Fortaleza. O acesso a esta unidade de conservação se dá, partindo de Fortaleza, pela BR 222 e a seguir pela Rodovia CE 187. As excursões de coletas foram realizadas de forma aleatória em grande faixa de área da bica, durante os meses entre março e maio de 2012.
Utilizando as técnicas específicas para o manuseio, após as coletas, todos os exemplares foram armazenados separadamente, em sacos de papel, seguidos das respectivas anotações contendo informações sobre do nome do coletor, local, número e data da coleta, além das observações ecológicas, seguindo a metodologia usual descrita em (Yano 1989b,1992). Foram analisadas também amostras depositadas no Herbário Francisco José de Abreu Matos (HUVA) da Universidade Estadual Vale do Acaraú, localizada no Município de Sobral, Ceará.
A distribuição geográfica das espécies foi baseada nos trabalhos de Yano (1981, 1989, 1995, 2006), Yano & Pôrto (2006) e Oliveira & Alves (2007). Grupos briocenológicos aqui são entendidos como as comunidades que crescem em dados substratos (Fudali 2001): corticícola (tronco vivo), epíxila (tronco morto), terrícola (solos), casmófita (substrato artificial - concreto ou argamassa) e epimiconte (fungos não liquenizados); espectro ecológico é entendido como a variabilidade de substratos colonizados, consoante os grupos briocenológicos (Fudali 2000).
A identificação das amostras foi realizada no Laboratório de Biologia Vegetal da Universidade Estadual Vale Acaraú, com a colaboração e supervisão da Profª. Dra. Marlene Matos, pesquisadora do referido Instituto, com o auxílio de literaturas especializadas e por comparação com material já identificado por especialistas.
Trabalhamos com a identificação de exemplares coletados por mim e, em complementação a pesquisa, também foram analisadas e identificadas amostras coletadas por outros pesquisadores e colaboradores, assim como amostras contidas no herbário HUVA.
As espécies estão organizadas em ordem alfabética e, para cada uma, são fornecidos distribuição geográfica mundial e brasileira e comentários referentes a ambiente, substrato e caracteres taxonômicos importantes. Foram ilustradas aquelas espécies que contam com poucas ilustrações na literatura. As novas ocorrências para o Estado do Ceará estão assinaladas com um asterisco (*).
Figura 1: Área de coleta, Município de Ipu - Ceará – Brasil.
 
RESULTADOS E DISCURSSÃO
Foram trabalhadas até o momento 20 amostras, compreendendo a ocorrência de 3 famílias, 7 gêneros e 7 espécies. A família mais representativa foi a Fissidentaceae.
Na maioria das vezes sobre rochas, troncos de árvores, folhas vivas e mortas e no chão, tais locais criaram um ambiente mais propício ao desenvolvimento de briófitas, pois fornecem mais sombra e, principalmente, umidade.

Aneuraceae

Aneura pinguis (L.) Dumort., Comment. Bot. 115. 1822. Jungermannia pinguis L., Sp. Pl. 1753.
Descrição: Hell (1969) como Riccardia pinguis (L.) Gray.
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, bica do Ipu, 10.III.2007, H.C. Oliveira 642 (HUEFS).
Distribuição geográfica: Cosmopolita. No Brasil: AM, MG, MS, RJ e SP.
Encontrada próximo a queda d’água, como rupícola, colonizando rochas úmidas, associada a Cyclodictyon varians (Sull.) Kuntze e Lejeunea laeta (Lehm. & Lindenb.)
Lehm. & Lindenb. Segundo Gradstein & Costa (2003) todos os registros de A. pinguis para o Brasil devem ser revistos devido à similaridade desta espécie com A. pseudopinguis (Herzog) Pócs, no entanto, a primeira diferencia-se pelo talo mais espesso, com 9–18 células de compr. em secção transversal e ramos masculinos pequenos. De acordo com Hell (1969) a espécie ocorre sobre madeira em decomposição, húmus, rochas e barrancos, próximos à cursos d’água.
Esta é a primeira citação para a Região Nordeste.

Fissidentaceae
*Fissidens anguste-limbatus Mitt., J. Linn. Soc., Bot. 12: 601. 1869.
Descrição: Pursell (2008)
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 643 (HUEFS).
Distribuição geográfica: Américas do Norte, Central e do Sul. No Brasil: AC, AM, MT, MG, PA, PR, PE, RJ, RS, RO, RR, SC e SP. Amplamente distribuída no país, ocorrendo em todas as regiões.
Encontrada próximo a queda d'água, crescendo sobre barranco. Segundo Pursell (2008) pode ser encontrada também submersa em rios e riachos. A espécie é facilmente reconhecida pelos filídios largos, com bordo forte em toda a extensão da lâmina e células pequenas e lisas.
*Fissidens angustifolius Sull., Proc. Amer. Acad. 5: 275. 1861.
Descrição: Pursell (2008)
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 672, 675, 679, 688, 694 (HUEFS);
Distribuição geográfica: Américas do Norte, Central e do Sul, Ásia e Ilhas do Pacífico. No Brasil: AM, PA, RO, e SP. Tendo sido citada para as regiões Norte e Sudeste, a espécie apresenta uma distribuição descontínua no Brasil, o que demonstra a necessidade de mais coletas nas outras regiões. Esta é a primeira citação para a região Nordeste.
Encontrada na mata e próximo a quedas d'água, sobre troncos de árvores, rochas úmidas e solo, crescendo associada à F. lindbergii Mitt., Bryum mattogrossense Broth. e Philonotis cernua (Wilson) D.G. Griffin & W.R. Buck. Segundo Pursell (2008), pode ser encontrada sobre solo, rochas calcárias e troncos caídos na mata. A espécie já foi incluída no conceito de F. zollingeri Mont. (citada como Fissidens kegelianus C.M.) no trabalho de Florschütz (1964), entretanto, segundo Sharp et al. (1994) é possível distingui-las pelas células unipapilosas presentes em F. angustifolius e ausentes em F. zollingeri. F. angustifolius caracteriza-se ainda pelos filídios estreitos com margem inteira e limbídia percorrendo toda a extensão da lâmina
*Fissidens crispus Mont., Ann. Sci. Nat. Bot. II, 9: 57. 1838.
Descrição: Pursell (2008)
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 669 (HUEFS).
Distribuição geográfica: Américas do Norte, Central e do Sul e Ásia. No Brasil: AM, BA, PR, RS, SC e SP. A espécie apresenta distribuição descontínua, sendo citada para as regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil.
Encontrada próximo a quedas d'água, crescendo sobre rochas e barrancos úmidos, associada à Fissidens serratus Müll. Hal. De acordo com Pursell (2008), pode ocorrer ainda colonizando troncos e ramos vivos ou em decomposição. Sharp et al. (1994) caracteriza a espécie pelos filídios crispados, com margens mais ou menos inteiras e costa percurrente. Fissidens crispus caracteriza-se ainda pela limbídia terminando próximo ao ápice e células da lâmina irregularmente hexagonais a quadráticas, lisas, retangulares próximo à porção inferior da costa.
*Fissidens lindbergii Mitt., Journ. Linn. Soc. Bot. 12: 602. 1869.
Descrição: Pursell (2008)
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 684, 694 (HUEFS)
Distribuição geográfica: Américas Central e do Sul e Ilhas Ocidentais. No Brasil: GO e RJ. Os poucos registros para o Brasil demonstram a necessidade de mais coletas nas diversas regiões do país. Esta é a primeira citação para a região Nordeste.
Encontrada na mata e próximo a quedas d'água, sobre piso de cimento, rochas e barrancos úmidos em ambientes semi-ensolarados, crescendo associada à Fissidens angustifolius e Fissidens crispus. A ocorrência sobre substratos de cimento e tijolos é citada como rara por Pursell (2008). A espécie é próxima de Fissidens flaccidus, distinguindo-se pela costa mais curta e pela célula apical vermelha.

Ricciaceae

Riccia fruchartii Steph., Bull. Herb. Boissier. 6: 330. 1898.

Descrição: Jovet-Ast (1991)
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, bica do Ipu, 10.III.2007, H.C. Oliveira 641 (HUEFS).
Distribuição geográfica: América do Sul. No Brasil: PR, RJ, RS, SC e SP.
Encontrada próximo a quedas d’água, como terrícola e rupícola, colonizando rochas e barrancos úmidos. Não foi possível analisar o esporófito. No entanto, as características do gametófito, principalmente a margem hialina do talo, tornaram possível a identificação desta espécie. A espécie ocorre sobre solos e rochas expostos, em ambientes abertos (Gradstein & Costa 2003). Esta é a primeira referência para a Região Nordeste.

Riccia stenophylla Spruce, Bull. Soc. Bot. France 36: 195. 1889.

Descrição: Hássel de Menéndez (1962);
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10.III.2007, H.C. Oliveira 677 (HUEFS);
Distribuição geográfica: Largamente distribuída na América tropical e subtropical. No Brasil: BA, CE, ES, GO, MT, PE, PR, RJ, RS, SC e SP.
Encontrada em ambiente de mata úmida e sombreada, próximo à queda d’água e em trilhas expostas ao sol, como rupícola e terrícola, colonizando solos e rochas úmidos. A espécie caracteriza-se pelo talo dicotomicamente dividido em segmentos finos, com até 0,5 mm de larg. e esporos com 3–5 areolações na superfície distal (Gradstein & Costa 2003). De acordo com os mesmos autores, R. stenophylla ocorre, geralmente, sobre solos úmidos próximos a rios e lagoas, podendo ser encontrada também flutuantes, em águas paradas. As famílias de antóceros ocorreram com uma espécie cada. Anthoceros punctatus apresenta distribuição geográfica mundial restrita à América tropical e subtropical.
O espectro ecológico obtido foi rupícola - terrícola - corticícola - epixílica - casmófita, onde o grupo briocenológico rupícola foi predominante, sendo rocha o substrato preferencial.
Diante dos resultados obtidos, nota-se a riqueza de espécies de briófitas na bica de Ipu. Mas revelam ainda a necessidade de aprofundamento dos estudos de briófitas na área.


CONCLUSÃO
As espécies encontradas, colaboram para a intensificação dos estudos deste grupo na região. Em relação a outros levantamentos realizados em áreas, observa-se que a Bica apresenta considerável representatividade quanto à sua flora briofitica. Portanto é uma área com diversidade muito grande e o seu conhecimento irá ajudar na preservação e conservação da área.
Maiores esforços estão sendo realizados para se conhecer a brioflora dos ecossistemas encontrados nessa área e este levantamento continuará sendo realizado. O presente trabalho apresenta o estudo de uma pequena parte das espécies existentes coletadas e identificadas durante o período de abril a maio de 2012 e foi realizado de modo a abrir novas frentes de pesquisa para os que se interessam pelo grupo não só na instituição e área de estudo, mas em todo o estado do Ceará.
Sendo assim, os resultados aqui apresentados buscam colaborar com a necessidade de se intensificar os inventários florísticos de briófitas no Ceará.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, MMA. 2002. Avaliação e identificação das áreas e ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade nos Biomas brasileiros. Ministério do Meio Ambiente, Brasília.         
BRITO, A.E.R.M. & PÔRTO, K.C. 2000. Guia de estudos de briófitas: Briófitas do Ceará. Edições Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.         

Revista Brasileira de Botânica – Fissidentaceae (Bryophyta) da Chapada da Ibiapaba, Ceará, Brasil. vol.33 no.3 São Paulo July/Sept. 2010. Link: file:///E:/tabalho de briofitas.html

YANO, O. 2006. Novas adições ao catálogo de Briófitas Brasileiras. Boletim do Instituto de Botânica 17:1-142.       
YANO, O. & COSTA, D.P. 1992. Novas ocorrências de briófitas no Brasil. In Anais 8º Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo (R.R. Sharif, ed.). Campinas. p.33-45.   
YANO, O. & PÔRTO, K.C. 2006. Diversidade das briófitas das Matas Serranas do Ceará, Brasil. Hoehnea 33:7-40.        
YANO, O. 2010.  Levantamento de novas ocorrências de briófitas
Brasileiras. São Paulo, Instituto de Botânica, Brasil.
 As Briófitas
Um grupo formado por mais de 18.000 espécies de plantas pequenas, geralmente com poucos centímetros de altura,que crescem habitualmente sobre o solo, troncos de árvores e rochas de ambientes úmidos e sombrios.
Uma das características mais marcantes das briófitas é a ausência de vasos para a condução de nutrientes. Estes são transportados de célula a célula por todo o vegetal. É por isso que não existem briófitas muito grandes. O transporte de água de célula a célula é muito lento e as células mais distantes morreriam desidratadas.
Os musgos e as hepáticas são os principais representantes das briófitas. O conjunto de musgos forma uma espécie de "tapete" esverdeado, observado comumente nos solos, muros e barrancos úmidos. Podem formar uma ampla cobertura sobre o solo, protegendo-o contra a erosão.

As briófitas não tem raízes. Fixam-se ao solo por meio de filamentos chamados rizóides, que absorvem a água e os sais minerais de que o vegetal necessita. Também não possuem verdadeiro caule. Tem uma haste denominada caulóide que não apresenta vasos para a condução da seiva. Suas "folhas" denominam-se filóides e são apenas partes achatadas do caulóide.

 Tatianna Karinne Angelo Ferreira

Um comentário:

  1. Bastante interessante o artigo. Seria viável algum tipo de incentivo no sentido de multiplicar a quantidade de briofíticas em áreas já em processo de erosão na região?

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