RESUMO
(Antóceros
(Anthocerotophyta), hepáticas talosas (Marchantiophyta), briófitas (Bryophyta))
da Bica do Ipu, Ceará, Brasil). A APA da Bica, unidade de conservação de uso sustentável, criada por meio
do DECRETO Nº
25.354, de 26 de janeiro de 1999, abrange
uma área de 3.484,66 hectares e localiza-se no Município de Ipu, a 391 Km de
Fortaleza. O acesso a esta unidade de conservação se dá, partindo de Fortaleza,
pela BR 222 e a seguir pela Rodovia CE 187
ao norte do estado do Ceará. No inventário florístico de briófitas realizado na
área, foram encontradas as seguintes espécies, Aneura pinguis (L.)
Dumort; Fissidens anguste-limbatus Mitt., J. Linn; Fissidens
angustifolius Sull; Fissidens crispus Mont., Ann. Sci. Nat; Fissidens
lindbergii Mitt., Journ. Linn; Riccia fruchartii Steph. e Riccia stenophylla Spruce, Bull. São fornecidas chaves
de identificação para as espécies, distribuição geográfica, comentários
referentes à ambiente, substratos e caracteres taxonômicos pertinentes.
Palavras-chave: Briófitas, florística, Nordeste do Brasil, taxonomia.
ABSTRACT
(Hornworts (Hornwort),
liver talosas (Marchantiophyta), bryophytes (Bryophyta)) of Bica do Ipu, Ceara,
Brazil). The APA Bica, protected area for sustainable use, created by the
Decree No. 25354 of January 26, 1999, covers an area of 3484.66 hectares and
is located in the city of Ipu, 391 km from Fortaleza. Access to this protected
area is given, from Fortaleza, BR 222 and follow Highway 187 north of the EC
state of Ceara. In the floristic inventory of bryophytes to the area, the
following species were found, Aneura pinguis (L.) Dumort; Fissidens limbatus
anguste-Mitt., J. Linn; Fissidens angustifolius Sull; Fissidens crispus Mont.,
Ann. Sci Nat, Fissidens lindbergii Mitt., Journ. Linn; Riccia fruchartii Steph.
and Riccia stenophylla Spruce, Bull. Keys are provided to species, geographical
distribution, comments relating to the environment, substrate and relevant
taxonomic characters.
Keywords: Bryophyta, floristic, northeastern Brazil,
taxonomy.
INTRODUÇÃO
As briófitas correspondem a um grupo de plantas avasculares que
ocorrem principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. A maioria se
desenvolve em locais consideravelmente úmidos, formando tapetes sobre o solo,
pedras, rochas, madeiras em decomposição ou sobre a casca de árvores vivas.
As briófitas estão representadas por três filos: Anthocerotophyta, Marchantiophyta
e Bryophyta representados
mundialmente
por ca. 18.000 espécies.
A
região da Chapada da Ibiapaba possui condições ambientais que favorecem o
desenvolvimento da flora briofítica. Segundo Souza (1989), a região é um dos
mais importantes compartimentos geomorfológicos do território cearense. Sua porção
norte consta de condições geoclimáticas que propiciam formação de brejos de
cimeira e de encosta, caracterizados pela mata úmida (Fernandes 1990).
Exatamente nesses ambientes, verifica-se a maior representatividade das
briófitas, o que torna o grupo de importância relevante para a biodiversidade.
Existem
também trabalhos que citam espécies ocorrentes no Estado do Ceará, mas nenhum
apresenta um levantamento específico e sistemático das briófitas do Estado.
Este
trabalho teve como principal objetivo contribuir para o
estudo e a elaboração de uma listagem das espécies de briófitas ocorrentes
nesta Serra, obtendo assim informações com vista a conservação das espécies e
de seus ecossistemas naturais existentes na área, além do conhecimento
da diversidade das famílias encontradas, para enriquecer os dados referentes à
brioflora do Estado do Ceará e do Brasil.
MATERAL E MÉTODOS
A APA (Área de Proteção Ambiental) da Bica abrange uma área de
3.484,66 hectares e localiza-se no Município de Ipu, a 391 Km de Fortaleza. O
acesso a esta unidade de conservação se dá, partindo de Fortaleza, pela BR 222
e a seguir pela Rodovia CE 187. As excursões de coletas foram realizadas de forma aleatória em grande faixa
de área da bica, durante os meses entre março e maio de 2012.
Utilizando as técnicas específicas para o manuseio, após as
coletas, todos os exemplares foram armazenados separadamente, em sacos de papel,
seguidos das respectivas anotações contendo informações sobre do nome do
coletor, local, número e data da coleta, além das observações ecológicas,
seguindo a metodologia usual descrita em (Yano 1989b,1992). Foram analisadas
também amostras depositadas no Herbário Francisco José de Abreu Matos (HUVA) da
Universidade Estadual Vale do Acaraú, localizada no Município de Sobral, Ceará.
A distribuição
geográfica das espécies foi baseada nos trabalhos de Yano (1981, 1989, 1995,
2006), Yano & Pôrto (2006) e Oliveira & Alves (2007). Grupos
briocenológicos aqui são entendidos como as comunidades que crescem em dados
substratos (Fudali 2001): corticícola (tronco vivo), epíxila (tronco morto),
terrícola (solos), casmófita (substrato artificial - concreto ou argamassa) e
epimiconte (fungos não liquenizados); espectro ecológico é entendido como a
variabilidade de substratos colonizados, consoante os grupos briocenológicos
(Fudali 2000).
A identificação das amostras foi realizada no Laboratório de
Biologia Vegetal da Universidade Estadual Vale Acaraú, com a colaboração e
supervisão da Profª. Dra. Marlene Matos, pesquisadora do referido Instituto,
com o auxílio de literaturas especializadas e por comparação com material já
identificado por especialistas.
Trabalhamos com a identificação de exemplares coletados por mim e,
em complementação a pesquisa, também foram analisadas e identificadas amostras
coletadas por outros pesquisadores e colaboradores, assim como amostras
contidas no herbário HUVA.
As
espécies estão organizadas em ordem alfabética e, para cada uma, são fornecidos
distribuição geográfica mundial e brasileira e comentários referentes a
ambiente, substrato e caracteres taxonômicos importantes. Foram ilustradas
aquelas espécies que contam com poucas ilustrações na literatura. As novas
ocorrências para o Estado do Ceará estão assinaladas com um asterisco (*).
Figura 1: Área de coleta, Município de Ipu - Ceará – Brasil.
RESULTADOS E DISCURSSÃO
Foram trabalhadas até o momento 20 amostras, compreendendo a ocorrência
de 3 famílias, 7 gêneros e 7 espécies. A família mais representativa foi a Fissidentaceae.
Na maioria das vezes sobre rochas,
troncos de árvores, folhas vivas e mortas e no chão, tais locais criaram um
ambiente mais propício ao desenvolvimento de briófitas, pois fornecem mais
sombra e, principalmente, umidade.
Aneuraceae
Aneura pinguis (L.) Dumort., Comment. Bot. 115. 1822. Jungermannia pinguis L., Sp.
Pl. 1753.
Descrição: Hell (1969) como Riccardia pinguis (L.) Gray.
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, bica do Ipu, 10.III.2007, H.C. Oliveira
642 (HUEFS).
Distribuição geográfica: Cosmopolita. No Brasil: AM, MG, MS, RJ e SP.
Encontrada próximo a queda d’água, como rupícola, colonizando
rochas úmidas, associada a Cyclodictyon varians (Sull.) Kuntze e Lejeunea
laeta (Lehm. & Lindenb.)
Lehm. & Lindenb. Segundo Gradstein & Costa (2003) todos
os registros de A. pinguis para o Brasil devem ser revistos devido à
similaridade desta espécie com A. pseudopinguis (Herzog) Pócs, no
entanto, a primeira diferencia-se pelo talo mais espesso, com 9–18 células de
compr. em secção transversal e ramos masculinos pequenos. De acordo com Hell
(1969) a espécie ocorre sobre madeira em decomposição, húmus, rochas e
barrancos, próximos à cursos d’água.
Esta é a primeira citação para a Região Nordeste.
Fissidentaceae
*Fissidens anguste-limbatus
Mitt., J. Linn. Soc., Bot. 12: 601. 1869.
Descrição:
Pursell (2008)
Material
examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 643
(HUEFS).
Distribuição
geográfica: Américas do Norte, Central e do Sul. No Brasil: AC, AM, MT, MG, PA,
PR, PE, RJ, RS, RO, RR, SC e SP. Amplamente distribuída no país, ocorrendo em
todas as regiões.
Encontrada
próximo a queda d'água, crescendo sobre barranco. Segundo Pursell (2008) pode
ser encontrada também submersa em rios e riachos. A espécie é facilmente
reconhecida pelos filídios largos, com bordo forte em toda a extensão da lâmina
e células pequenas e lisas.
*Fissidens angustifolius
Sull., Proc. Amer. Acad. 5: 275. 1861.
Descrição: Pursell (2008)
Material
examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 672,
675, 679, 688, 694 (HUEFS);
Distribuição
geográfica: Américas do Norte, Central e do Sul, Ásia e Ilhas do Pacífico. No
Brasil: AM, PA, RO, e SP. Tendo sido citada para as regiões Norte e Sudeste, a
espécie apresenta uma distribuição descontínua no Brasil, o que demonstra a
necessidade de mais coletas nas outras regiões. Esta é a primeira citação para
a região Nordeste.
Encontrada
na mata e próximo a quedas d'água, sobre troncos de árvores, rochas úmidas e
solo, crescendo associada à F. lindbergii Mitt., Bryum mattogrossense
Broth. e Philonotis cernua (Wilson) D.G. Griffin & W.R. Buck.
Segundo Pursell (2008), pode ser encontrada sobre solo, rochas calcárias e
troncos caídos na mata. A espécie já foi incluída no conceito de F.
zollingeri Mont. (citada como Fissidens kegelianus C.M.) no trabalho
de Florschütz (1964), entretanto, segundo Sharp et al. (1994) é possível
distingui-las pelas células unipapilosas presentes em F. angustifolius e
ausentes em F. zollingeri. F. angustifolius caracteriza-se ainda
pelos filídios estreitos com margem inteira e limbídia percorrendo toda a
extensão da lâmina
*Fissidens crispus Mont., Ann. Sci. Nat.
Bot. II, 9: 57. 1838.
Descrição:
Pursell (2008)
Material
examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 669
(HUEFS).
Distribuição
geográfica: Américas do Norte, Central e do Sul e Ásia. No Brasil: AM, BA, PR,
RS, SC e SP. A espécie apresenta distribuição descontínua, sendo citada para as
regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil.
Encontrada
próximo a quedas d'água, crescendo sobre rochas e barrancos úmidos, associada à
Fissidens serratus Müll. Hal. De acordo com Pursell (2008), pode ocorrer
ainda colonizando troncos e ramos vivos ou em decomposição. Sharp et al.
(1994) caracteriza a espécie pelos filídios crispados, com margens mais ou
menos inteiras e costa percurrente. Fissidens crispus caracteriza-se
ainda pela limbídia terminando próximo ao ápice e células da lâmina irregularmente
hexagonais a quadráticas, lisas, retangulares próximo à porção inferior da
costa.
*Fissidens lindbergii Mitt., Journ.
Linn. Soc. Bot. 12: 602. 1869.
Descrição: Pursell (2008)
Material
examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10-III-2007, H.C. Oliveira 684,
694 (HUEFS)
Distribuição
geográfica: Américas Central e do Sul e Ilhas Ocidentais. No Brasil: GO e RJ.
Os poucos registros para o Brasil demonstram a necessidade de mais coletas nas
diversas regiões do país. Esta é a primeira citação para a região Nordeste.
Encontrada
na mata e próximo a quedas d'água, sobre piso de cimento, rochas e barrancos
úmidos em ambientes semi-ensolarados, crescendo associada à Fissidens
angustifolius e Fissidens crispus. A ocorrência sobre substratos de
cimento e tijolos é citada como rara por Pursell (2008). A espécie é próxima de
Fissidens flaccidus, distinguindo-se pela costa mais curta e pela célula
apical vermelha.
Ricciaceae
Riccia
fruchartii Steph., Bull. Herb. Boissier.
6: 330. 1898.
Descrição: Jovet-Ast (1991)
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, bica do Ipu, 10.III.2007, H.C. Oliveira
641 (HUEFS).
Distribuição geográfica: América do Sul. No Brasil: PR, RJ, RS, SC e SP.
Encontrada próximo a quedas d’água, como terrícola e rupícola,
colonizando rochas e barrancos úmidos. Não foi possível analisar o esporófito.
No entanto, as características do gametófito, principalmente a margem hialina do
talo, tornaram possível a identificação desta espécie. A espécie ocorre sobre
solos e rochas expostos, em ambientes abertos (Gradstein & Costa 2003).
Esta é a primeira referência para a Região Nordeste.
Riccia
stenophylla Spruce, Bull. Soc. Bot. France
36: 195. 1889.
Descrição: Hássel de Menéndez (1962);
Material examinado: BRASIL. Ceará: Ipu, Bica do Ipu, 10.III.2007, H.C. Oliveira
677 (HUEFS);
Distribuição geográfica: Largamente distribuída na América tropical e subtropical. No
Brasil: BA, CE, ES, GO, MT, PE, PR, RJ, RS, SC e SP.
Encontrada em ambiente de mata úmida e sombreada, próximo à
queda d’água e em trilhas expostas ao sol, como rupícola e terrícola, colonizando
solos e rochas úmidos. A espécie caracteriza-se pelo talo dicotomicamente dividido
em segmentos finos, com até 0,5 mm de larg. e esporos com 3–5 areolações na superfície
distal (Gradstein & Costa 2003). De acordo com os mesmos autores, R.
stenophylla ocorre, geralmente, sobre solos úmidos próximos a rios e
lagoas, podendo ser encontrada também flutuantes, em águas paradas. As famílias
de antóceros ocorreram com uma espécie cada. Anthoceros punctatus apresenta
distribuição geográfica mundial restrita à América tropical e subtropical.
O espectro
ecológico obtido foi rupícola - terrícola - corticícola - epixílica -
casmófita, onde o grupo briocenológico rupícola foi predominante, sendo rocha o
substrato preferencial.
Diante dos
resultados obtidos, nota-se a riqueza de espécies de briófitas na bica de Ipu.
Mas revelam ainda a necessidade de aprofundamento dos estudos de briófitas na
área.
CONCLUSÃO
As espécies encontradas, colaboram
para a intensificação dos estudos deste grupo na região. Em relação a outros
levantamentos realizados em áreas, observa-se que a Bica apresenta considerável
representatividade quanto à sua flora briofitica. Portanto é uma área com
diversidade muito grande e o seu conhecimento irá ajudar na preservação e
conservação da área.
Maiores esforços estão sendo realizados para se conhecer a
brioflora dos ecossistemas encontrados nessa área e este levantamento
continuará sendo realizado. O presente trabalho apresenta o estudo de uma
pequena parte das espécies existentes coletadas e identificadas durante o
período de abril a maio de 2012 e foi realizado de modo a abrir novas frentes
de pesquisa para os que se interessam pelo grupo não só na instituição e área
de estudo, mas em todo o estado do Ceará.
Sendo
assim, os resultados aqui apresentados buscam colaborar com a necessidade de se
intensificar os inventários florísticos de briófitas no Ceará.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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das áreas e ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e
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Sociedade Botânica de São Paulo (R.R. Sharif, ed.). Campinas. p.33-45.
YANO, O. & PÔRTO, K.C. 2006.
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YANO, O. 2010. Levantamento de novas ocorrências de briófitas
Brasileiras.
São Paulo, Instituto de Botânica, Brasil.
As Briófitas
Um grupo formado por mais de 18.000
espécies de plantas pequenas, geralmente com poucos centímetros de
altura,que
crescem habitualmente sobre o solo, troncos de árvores e rochas de ambientes
úmidos e sombrios.
Uma das características mais marcantes
das briófitas é a ausência de vasos para a condução de nutrientes. Estes são
transportados de célula a célula por todo o vegetal. É por isso que não existem
briófitas muito grandes. O transporte de água de célula a célula é muito lento
e as células mais distantes morreriam desidratadas.
Os musgos e as hepáticas são os
principais representantes das briófitas. O conjunto de musgos forma uma espécie
de "tapete" esverdeado, observado comumente nos solos, muros e
barrancos úmidos. Podem formar uma ampla cobertura sobre o solo, protegendo-o
contra a erosão.
Bastante interessante o artigo. Seria viável algum tipo de incentivo no sentido de multiplicar a quantidade de briofíticas em áreas já em processo de erosão na região?
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