Mostrando postagens com marcador Fonte: Diário do Nordeste " Caderno 3 dia 26/5/2010" Repórter Natercia Rocha. Mostrar todas as postagens
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26 de mai. de 2010

Musical mambembe

Espetáculo "Mundaréu Sonoro" reúne candomblé, dança, culinárias e tradições populares. O grupo de Sobral vai se apresentar e ministrar oficinas em FortalezaEstrela grande e bonita/Lá do céu venha pra cá/Pra ouvir minha toada/Me assistir, eu vim brincar. É cantando à capela o aboio "Oração à Estrela", como os caboclos dos Sertões de antigamente, que o artista popular Martônio Holanda vem de Sobral para a Capital apresentar o espetáculo "Mundaréu Sonoro".Tudo muito simples, como quase sempre é o que de fato importa. Os panos espalhados pelo palco montam o degradê do musical mambembe, onde o entra e sai de memórias constrói a história alegre de se ver. Cirandas, cocos, festas juninas, procissões, capoeira, em um peculiar desfile de manifestações e festejos populares.Martônio é caboclo simples. Nasceu e cresceu embrenhado nos conhecimentos espirituais que a tradição de seus ancestrais negros, bravamente, conservou até aqui. É artista de rua da melhor safra, daqueles que nasceram sabendo fazer quase de tudo.No palco, um cenário coloridíssimo, todo pensado e confeccionado por ele mesmo, onde desfilam fitas, andores, tambores, bois, rezadeiras, bonecos, reisado, teatro e, claro, muita religiosidade. Assim mesmo, tudo junto, fazendo as ligações invisíveis, buscando unir o quebra-cabeças da existência."O Mundaréu Sonoro é uma viagem pelos cantos existentes em cada um de nós. Esse show é uma oração de agradecimento à Força, chamada de Inspiração, que permite a qualquer um de nós trazer manifestações de arte para a Terra. Aqui todos interagem, todos são artistas, cada um compõe o todo, como na vida", ensina Martônio.O show é composto e organizado por integrantes de uma religião de tradição espírita, a União do Vegetal, em que Martônio ocupa um dos mais altos cargos hierárquicos e, também por isso, é chamado de Mestre. E cada vez mais sua música repleta de enigmas e respostas vem lotando teatros por Estados como Pernambuco, Paraíba e Rondônia, lugares aonde já levou seu Mundaréu Sonoro."Fico dois dias ministrando oficina para a gente do lugar onde o show é apresentado. E são essas pessoas que se apresentam comigo. A plateia vira artista, faz a arte acontecer. Confeccionamos roupas, acessórios, ensaiamos tambores, agogôs, e, na hora, tudo dá certo. O show é como uma grande brincadeira".SimplicidadeDiversão, então, para toda a família. Enquanto interpreta suas canções sobre a música incidental, "que facilitou a logística das viagens", troca, no palco, o figurino composto de mantas coloridas, bem aos moldes dos reis e profetas de outrora. Faz alusão às forças que regem a natureza e homenageia índios da floresta.Também carrega santo em andor com procissão ensaiada e ainda encontra espaço para as artes plásticas, pintando, enquanto canta, quadros com sóis e beija-flores, sua marca registrada. Obras, aliás, disputadíssimas por seus séquitos. Dia desses, na apresentação realizada no Teatro São João, em Sobral, casa lotada, na parte onde o folclorista homenageia o trabalho das benzedeiras (ou rezadeiras), hoje raras até no interior do Estado, levou a própria mãe, a lendária dona Toinha Grande, para o palco."A ideia é mostrar a simplicidade da natureza das coisas. Que podemos transformar o que precisamos. Que devemos vivenciar conscientemente a espiritualidade. Nossas raízes estão aí, no candomblé, na dança, na culinária, na música. Estamos dando o devido valor a essas questões".O espetáculo itinerante, que tem direção teatral de Anderson Vasconcelos e direção musical de Edu Asaf, figuras atuantes na cena cultural da zona norte, recentemente virou DVD e, juntamente com os outros dois CDs do artista, "Mundaréu" e "Oferenda", tem circulado com sucesso entre os brincantes."Muitas pessoas me ajudam, ninguém faz nada sozinho. Tenho amigos valiosos nos bastidores desse intercâmbio cultural. Aqui em Fortaleza quem me acompanha na apresentação do Sesc/Senac Iracema, nesse interessante projeto deles chamado Armazém do Som, são os atores Zeca Gonçalves, Jonas Marques e Wellington Mendes. Mas até chegar aqui...".Os trabalhos são encerrados com a clássica "Majestade o Sabiá", de Roberta Miranda, e quase sempre os participantes se despedem na maior alegria, dançando a ciranda que forma o elo da União. "Esse momento mostra que o sonho não acabou e nunca vai acabar".Martônio Gomes Holanda, nasceu em 10 de junho de 1965, em Sobral, zona Norte do Ceará. É autodidata, começou desenhando a carvão em calçadas e, hoje, transita livre por diferentes áreas da cultura popular. O culto à "natureza das coisas", o resgate de tipos nordestinos e o folclore são manifestados através da pintura de murais em escolas, exposições (acrílico sobre tela) e da música.É chargista do Jornal "O Noroeste" de Sobral; ilustrador da Revista do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems), de Brasília (DF); caricaturista e publicitário. Trabalha com esculturas, objetos decorativos e brinquedos confeccionados com materiais recicláveis. O artista dá vida a bonecos para utilização em teatro de rua ou mamulengo, cria cenários, figurinos e adereços para variadas apresentações cênicas, além de cantar e compor as músicas utilizadas em seus espetáculos.No teatro, atuou com instrutor do Curso Teatro de Rua e Saúde, no qual ministrou curso de cenografia e maquiagem, promovido pela Escola de Saúde da Família Visconde de Saboia. Entre os trabalhos já apresentados pelo artista estão os espetáculos de rua "A lenda do boi Diamante", "O Jardim do Encanto" e "Mitoró & Lenderê: Brasil de Mitos e Lendas". Martônio tem também participação no Grupo Bem-Me-Quer & Cia (teatro de rua e bonecos) como coordenador e ator.MAIS INFORMAÇÕES:Show Mundaréu Sonoro, de Martônio Holanda. Próxima sexta, às 20h, no Sesc Senac Iracema (rua Boris, 90C). As oficinas são ministradas hoje e amanhã, das 9h às12h. Ingressos antecipados. Telefone (85) 3252.2215.
NATERCIA ROCHA
REPÓRTER